Tragédia no Chile vira espetáculo midiático
Por Altamiro BorgesNum forte apelo à emoção, visando algo bem mais concreto e palpável –, a audiência que gera lucros –, a mídia promoveu verdadeira overdose na cobertura do resgate dos 33 mineiros que, desde 5 de agosto, estavam enterrados nas profundezas do deserto de Atacama, do Chile. A tragédia humana foi convertida num verdadeiro espetáculo midiático. O show, porém, escondeu os reais motivos deste drama.
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, um dos mais ricos empresários do país, apareceu como herói do resgate, fotografado e filmado por veículos do mundo inteiro. Nada se falou sobre o fato do seu irmão, José Piñera, ex-ministro do Trabalho do ditador Augusto Pinochet, ter imposto as leis de flexibilização trabalhista em vigor no país. A precarizaçao do trabalho é uma das causas principais do desastre dos mineiros, que operam em péssimas condições de segurança.
Uma história de heroísmo
Pouco se falou também sobre a cruel exploração dos mineiros. Como descreve o escritor chileno Ariel Dorfman, a história da mineração no Chile é também a história de mortes e tragédias. A vida dos trabalhadores é de eterno heroísmo. “A epopéia dos homens que descem às trevas da montanha, separam minerais em meio à escuridão e sofrem um acidente que os deixa a mercê daquela escuridão, é parte do DNA do Chile, uma parte integral da história do meu país”.
“O mundo maravilhou-se com a maneira pela qual os trinta e três mineiros confinados debaixo da terra de San José se organizaram em turnos, criaram uma hierarquia de mando e elaboraram um plano de sobrevivência usando os talentos e recursos acumulados ao longo de uma vida de trabalho tenaz. Eu confesso, em troca, não sentir surpresa alguma. É assim que os trabalhadores chilenos sempre resistiram e sobreviveram aos desafios mais formidáveis”, relata, orgulhoso.
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