Na véspera do dia das mães, lembrei da Arte...
Ao começo dos anos 80, quando fiz uma bem sucedida exposição na extinta galeria Angelis, em Icaraí, Niterói, decidi dedicar-me apenas a pintura. O pintor Newton Rezende foi meu padrinho nesse novo "parto". Trabalhei mais de dez anos com artes gráficas porque pintura não dá dinheiro. (?) O cara diz: "Eu vou trabalhar e quando me aposentar, vou pintar", mas isso não funciona. E hoje, em projetos gráficos computadorizados, o cara faz o trabalho de seis ou mais funcionários para ganhar o salário de um.
Fazia ainda capas para WEA, era “free-lancer” em 1983, quando comecei a me envolver com o tema carnaval a partir de uma capa de disco recusada pela extinta Polygram, hoje "Universal". Eram regravações de grandes sucessos de carnavais passados, por artistas contemporâneos e famosos. Apresentei o projeto gráfico com o quadro “O penúltimo Carnaval”, óleo sobre tela, 73 cm x 100 cm.. Feito especialmente para aquela capa. Um palhaço bebendo vinho com o pierrô tocando violão numa cena de muitas figuras simbólicas ao fundo.
Recusado!
O quadro recusado. |
No caminho de volta para casa, passei pela WEA onde estava diretor geral meu inesquecível amigo (e ex "chefe") Heleno Oliveira, que olhando para o quadro, disse: (...) “_ Não esquenta com esse pessoal não, foi demais pra eles! (...) vai pra casa, pinta trinta quadros desses e faz uma exposição que vai ser um sucesso!”.
Bem, isso foi em 1983. Eu estava intoxicado, de tudo, de artes gráficas, frustrações e capas de disco recusadas, de vidas mal vividas, invejas e recusas indigestas. Desandei pintar. A exposição só saiu mesmo em 1987. Galeria Toulouse do Cláudio Valansy, na Avenida Atlântica, em Copacabana.
Sensacional!
Sensacional!
Mas, antes disso, foram quatro anos de muitos estudos, desenhos, esboços, e ao final, em dois meses e trinta e cinco telas à óleo de várias dimensões, lá estávamos nós. Tudo isso que não existe mais, com exceção dos quadros, que nunca mais vi, foi mesmo, ao final, uma exposição e grande sucesso.
O “Clóvis” verde e a morena de costas com penacho vermelho, intitulado "O penúltimo carnaval-II”, foi o carro chefe que virou o convite. Desde aquele dia está na coleção particular do também amigo Umberto Contardi. De lá pra cá explorei o tema. Um veio inesgotável, pois muitos foram os mestres em todas as épocas que abordaram o assunto com genialidade. Hoje não penso nele. Talvez... Quem sabe?
Tudo passa!
Quero pintar! Persigo "a Pintura”. Para tal, sem mais medo algum, ouso no mágico mundo do domínio da ciência das cores, com o auxilio para mim indispensável, das técnicas do desenho em riqueza de massas e linhas. Não há atalhos. As mãos de todos os mestres certamente ajudam, mas, não resolvem, não importa o tema, cada nova tela é um frio na espinha indo selva adentro.
Nesta exposição de 2003 tive 1000 visitantes em um mês e, nenhuma venda... Tudo muda. Tudo passa... Tudo está permanentemente "gerundando"...
Sensacional!
Nesta exposição de 2003 tive 1000 visitantes em um mês e, nenhuma venda... Tudo muda. Tudo passa... Tudo está permanentemente "gerundando"...
Sensacional!
A História da Arte está cheia de exemplos de muito poucos bem sucedidos, o que mostra o quanto a exceção confirma a regra. Seguirei procurando, perseguindo uma pintura emocionada, faxinante, crítica e autocrítica da alma universal e do meu carnaval particular. Faxinando egos pictóricos, carrapatos da criatividade pela criatividade. Aquele carnaval está em extinção... Extinção ou transcendência?
Do meu ser, a ideia do Eu artista, o brasileiro? Pintar pelo prazer de pintar... Do meu prazer de pintar sim, e da minha alegria de estar ainda vivo, também. Do pintar como eu pinto. Sem modismos, sem preocupações de sucesso. Vangoguear a existência que me resta. É uma meta? Um execício do livre arbítrio? – Elis Regina, lembra de mim? - Quem dirá algo de seu, quem dará uma “mensagem” sem derrogar?
Derrogar - v.t.d. e v.t.i. P.ext. Transgredir uma norma preestabelecida: ela derrogou as regras comportamentais de uma época. (Etm. do latim: derrogare)
Do meu ser, a ideia do Eu artista, o brasileiro? Pintar pelo prazer de pintar... Do meu prazer de pintar sim, e da minha alegria de estar ainda vivo, também. Do pintar como eu pinto. Sem modismos, sem preocupações de sucesso. Vangoguear a existência que me resta. É uma meta? Um execício do livre arbítrio? – Elis Regina, lembra de mim? - Quem dirá algo de seu, quem dará uma “mensagem” sem derrogar?
Derrogar - v.t.d. e v.t.i. P.ext. Transgredir uma norma preestabelecida: ela derrogou as regras comportamentais de uma época. (Etm. do latim: derrogare)
(...)“Porque, enfim, nem um herói, não suportaria a perfeição, como provou a mitológica figura grega... Provado fica, se Ulisses, herói, não suportou, em Ogigia, terra dos deuses, da divina Calípso, a “inefável paz e beleza imortal”, a perfeição, a absoluta perfeição, o homem normal, em mais breve tempo que o Herói, da sábia Grécia, seria vencido pelo enfado, onde houvesse, sempre, sem intermitência, a abundância, o repouso, o esquecimento dos cuidados, e as memoráveis conversas que contentam a alma, e, sempre, fosse, bem nutrido, revestido de linhos finos, sem nunca perder a querida força, nem a agudeza do entendimento, nem o calor da facúndia; onde quer que fosse, privado de ver o trabalho, o esforço, a luta e o sofrimento... Porque, ele, o homem insaciável, por destinação natural, tem que viver onde a alma arde no desejo do que se deforma, e se suja, e se espedaça, e se corrompe... E, terá, sempre, nas horas de completa serenidade, de quietude monótona de um lago morno, uma irreprimível saudade do mutável, do vir a ser de novo, e terá saudade da morte! Porque o homem há de, sempre, querer partir para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias – para a delicia das coisas imperfeitas!”
O pintor deseja ver uma beleza que o encante. Que é beleza? Está na sua vontade criá-la, e se lhe apraz a evocação de monstros terríveis, de cenas grotescas e ridículas ou comoventes, ele é senhor disso. Poderá fazer, se lhe aprouver, lugares ermos ou recantos sombrios e verdejantes no verão, ou mesmo lugares ardentes quando inverno. Livre arbítrio?
Inté a próxima.
Inté a próxima.
11 comentários:
Boa noite Aldo, coincidências? Também gosto de pintar, passar para a tela o que eu estou sentindo, mas nunca me atrevi a expor meus quadros. Eles ficam em casa, nas paredes, enfeitando, ou não - dependendo dos sentimentos de cada um, e do sentimento que eu tinha quando o quadro pintei. Aldo,suas pinturas retratam bem a realidade brasileira, não sei porque mas entendo o que você sentia ao pintá-los.
Gosto também de poesias, as vezes escrevo algumas. Coincidências? Aldo e minha querida Fada do Bosque, recebi hoje um email que me fez chorar, mas ao mesmo tempo me transmitiu uma alegria que há muito tempo eu não sentia. Hoje, 10/05/2014, é e sempre será para mim, um dia inesquecível.
Abraços ao dois e feliz dia das mães, e dos pãies>
Wal
...Sensibilidade para traduzir o belo surge com o amor, quando não há mais conflitos gerados pelo “eu”. Esse “eu” perturbador que classifica não É! não é mesmo?
Aldo, sinto que você fará uma exposição de quadros repleta de luz, verdade, perfeição, limpeza, cura. Esse é o verdadeiro sucesso, porque não há um “alguem” a recusar!
Te Amo com gratidão....
Vangoguear a existência que me resta, boa pedida. Lindos quadros , bjuss querido amigo
Walfrido, eu o abençoo, é singelo e franco assim o meu agradecimento... Quanto menos "palavro" mais abraço. Sinto muito, me perdoe, o amo, sou grato.
"o belo surge com o amor" e você está cada vez mais bela. Sou feliz por ver sua infinita beleza me iluminando o caminho. Eu a amo, sinto muito, me perdoe, sou grato.
...Será um sucesso a exposição !!! Eu estou à disposição para colaborar com um marcketing bacana viu!!! beijos e abraços com paz!
Querido amigo,
Eles inventaram o sucesso para que assim o ego possa "sentir-se" infeliz ou feliz, no entanto, é sempre a mesma infelicidade, pois é superficial, infecunda, estática, consumível - chegando, muitas vezes, a consumir o Ser. Desse modo, eles podem continuar a reinar, administrando, no mundo, a dor e a alegria, distribuindo-as ao seu bel e ilusório prazer. Mas a Arte, essa que vem da Essência, está incólume, porque brota da mais íntegra decência, é a divina revelação do Ser - a conexão diretamente ligada à Fonte. "Recusado" é tão somente um carimbo, como tantos outros que se põem sobre as mercadorias, porque é assim que eles vêem a tudo e a todos: Mercadorias a deslizarem sobre as esteiras do grande comércio. No entanto, há outros espaços, outros meios, outros caminhos infinitos, em que a Alma dialoga com outras Almas, onde nada nem ninguém é mercadoria, porque somos e tudo é a pura, exata e fina expressão do Amor. Que a luz se manifeste e se derrame em tintas e pincéis. Que venham as novas cores do seu Ser. Deixe-as vir, como num parto natural, apenas pelo Amor, assim como Amor de mãe: Simples - Amor Incondicional.
Sinta-se abraçado
Querido Aldo, Walfrido, Carol, Ana e todos aqueles que vêm a este lugar virtual de poesia e arte.
A todos um abraço cheio de alegria, sentimento de amor e compartilha.
Aldo, realmente é sabedoria maior que não nos apeguemos aquilo que criamos, aquilo que brota através das nossas mãos, o fruto da nossa imaginação. Você é realmente um artista! Livre arbítrio? eheheheh!!
Tem uma alma do tamanho do mundo e o seu coração reflecte todo esse Amor.
Aqui estamos todos para lhe dar um grande abraço do tamanho do Mundo.
Feliz dia das mães... que já passou e não passou, pois é todos os dias... e dos pães! que não faltem nunca! :)
"Não é trabalho do artista dar ao público aquilo que ele quer, senão não seriam o público e sim o artista. É trabalho do artista, dar ao público aquilo que ele necessita." Alan Moore
Palavras de artista para artista e de Mago para Mago:
https://www.youtube.com/watch?v=myGiLfMZXGE
Oi Aninha. Que venham as novas cores do seu Ser. Deixe-as vir, como num parto natural, apenas pelo Amor, assim como Amor de mãe: Simples - Amor Incondicional. Sinto-me abraçado. Preciso faxinar expectativas...
Feliz dia das mães pra você também... que já passou e não passou, pois é todos os dias... e dos pães! que não NOS faltem infinitamente! :)
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